Conceituações de medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador
A Medicina do Trabalho, vista como uma especialidade médica, surgiu na Inglaterra, ainda na primeira metade do século XIX, junto com a Revolução Industrial. A exploração da mão de obra, por meio da submissão dos trabalhadores a um processo acelerado e desumano de produção, exigiu uma intervenção, sob pena de tornar inviável a sobrevivência e reprodução do próprio processo.
Num contexto econômico e político do trabalho nas indústrias durante os anos da II Guerra Mundial, em condições extremamente adversas e em jornadas de trabalho extenuantes, teve grande repercussão no desenvolvimento industrial devido ao custo provocado pela perda de vidas por acidentes do trabalho, ou mais notavelmente por doenças do trabalho.
Entre muitos outros desdobramentos deste processo, as normativas em desenvolvimento da medicina do trabalho da época para intervir sobre os problemas de saúde causados pelos processos de produção eram insatisfatórias. Com isso, cresciam também a insatisfação e o questionamento dos trabalhadores, usados apenas como “objetos” das ações, e dos empregadores, que sofriam os prejuízos dos custos relativos aos agravos à saúde de seus empregados.
A Saúde Ocupacional surgiu desse contexto, sobretudo, dentro das grandes empresas, com características de multi e interdisciplinaridade, por meio de equipes multiprofissionais com destaque para a “higiene industrial”. Assim, a saúde ocupacional passa a ser considerada como um ramo da saúde ambiental, que preza direta ou indiretamente pela saúde do trabalhador.
No Brasil, data dos anos 80 a emergência da saúde do trabalhador, mesmo em meio à transição democrática, em sintonia com o que ocorria no mundo ocidental. Entre algumas conquistas dessas mudanças legislativas da época, destacam-se: o ganho de uma nova maneira de pensar sobre o processo saúde-doença; o reconhecimento do trabalho no processo de adoecimento e morte dos trabalhadores, tanto de doenças profissionais “clássicas” como intoxicação por chumbo, mercúrio e benzeno, quanto por "novas" doenças relacionadas ao trabalho, como as lesões por esforços repetitivos (LER); reivindicações por políticas públicas e por um sistema de saúde capaz de sanar as necessidades de saúde dos trabalhadores e da população em geral; a conquista pelo estabelecimento de novas práticas sindicais em saúde por intermédio da ampliação do debate, circulação de informações, reformulação do trabalho das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs), entre outros.
Relações com a saúde pública e outros campos de atividade humana
A Saúde do Trabalhador corresponde a um campo da Saúde Pública que busca intervir na relação entre o sistema produtivo e a saúde, de forma integrada com outras ciências da saúde, visando à preservação da saúde dos trabalhadores por meio da prevenção, reabilitação de função e readaptação profissional. Compreende a atenção integral à saúde, a articulação intra e intersetorial, a participação popular, o apoio a estudos e a capacitação de recursos humanos.
O Programa Saúde do Trabalhador, contido na Portaria nº 3120, de 1º de julho de 1998, tem por objetivo prevenir e diminuir riscos e doenças relacionadas ao ambiente de trabalho, por meio de medidas como fiscalização e promoção de eventos técnicos. A organização das informações, realização de assistência, fiscalização do ambiente de trabalho e municipalização fazem parte do processo de Vigilância em Saúde do Trabalhador. A atuação da Vigilância em Saúde do Trabalhador está fundamentada nos princípios do Sistema Único de Saúde: universalidade, integralidade, descentralização, controle social, interdisciplinaridade e pesquisa-intervenção.
Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO